domingo, 3 de fevereiro de 2013

Os gestos, de Osman Lins.



Olá, pessoas!



            O livro que vou resenhar hoje é de um ilustre autor pernambucano, natural de Vitória de Santo Antão, que muita gente já deve ter lido ou pelo menos “ouviu falar” quando prestou vestibular (pelo menos aqui em PE). E assim foi meu primeiro contato com os contos de Osman Lins, através do livro Melhores contos de Osman Lins, uma seleção feita pela Profª. Sandra Nitrini (USP), e que simplesmente amei! Infelizmente os textos dele não são esses romances divertidos e fáceis de ler, eles requerem um pouco mais de atenção e propõem reflexões para as quais eu nem sempre tinha tempo, principalmente depois que comecei a faculdade. Por isso, acabei deixando os livros dele de lado por um bom tempo. Então eis que um dia, conversando sobre livros com um conhecido, ele me indicou a leitura de Avalovara, romance de autoria de Osman Lins e considerado sua maior obra. “Ah! Eu já li alguns contos dele e gostei bastante. Vou procurar esse.” – comentei. Acabei me deparando com “Os gestos” numa biblioteca da universidade, do qual eu havia lido o conto que dá título ao livro e resolvi retomar minhas leituras de Osman (olha a intimidade, hehe) por este.

              Bom, divagações à parte (rsrsrs), antes de começar meus comentários sobre o livro eu gostaria de deixar claro que não sou nenhuma especialista em literatura e, portanto, este resenha não contém nenhuma grande crítica, apenas refletem o que senti durante a leitura.

Os gestos é um livro de contos escrito durante a juventude do autor e trás como principal mensagem a dificuldade de expressar sentimentos em palavras. Alguns pensamentos são tão difíceis de expor, tão íntimos que são impossíveis de ser traduzidos em palavras, restam apenas os gestos. Impedidos – por vários e diferentes motivos – de falar aquilo que desejam através das palavras, os personagens desses contos enfrentam a angústia e desespero de não poderem se fazer compreendidos. É um livro triste e profundo, mas a poética presente na narrativa de Osman Lins faz com que o leitor saboreie cada palavra e deseje cada vez mais.

A Profª. Sandra Nitrini define o estilo o estilo do autor como de “linhagem machadiana” ao invés de seguir a narrativa regionalista da década de 30, no prefácio do livro que citei lá no início da resenha.


“Escreve contos de sondagem interior, num mundo de fronteiras elásticas, colocando em cena velhos, doentes, crianças, adolescentes, mulheres em situações prosaicas da vida, oferecendo-nos uma galeria de personagens, as quais em sua maior parte se incluem na categoria do que hoje entendemos por excluídos. (...) impõem-se pela consistência e complexidade de sua fisionomia interna, sempre traçada com firmeza a partir de sua confrontação com o outro e da decorrente constatação da incomunicabilidade entre os homens.” (NITRINI, 2003, p. 10)*

Os contos são curtos, alguns não passam de três páginas, mas consegui facilmente me conectar a cada personagem. Alguns eu entendia e até conseguia imaginá-los como pessoas de carne e osso, outros me pareceram exageradamente depressivos. Mas isso é bastante compreensível, segundo Julieta de Godoy Ladeira explica no prefácio do livro:

“Como acontece com a própria juventude, os contos aqui apresentados nos passam um clima de revolta não-explicada, o sentimento de personagens que desejam o mundo, mas ainda não conseguiram sair do quarto. O difícil instante da adolescência.” (LADEIRA, 1994, p. 5)**

            Isso não significa que todos os personagens dos contos sejam adolescentes, porém tanto eles como suas narrativas são influenciados pelos próprios sentimentos do autor na juventude.

Os meus contos preferidos são:

- Os gestos, onde o velho André, destituído da voz, sofre diante da incapacidade de ser compreendido pelas pessoas que mais ama.

“Do leito, o velho André via o céu nublar-se, através da janela, enquanto as folhas da mangueira brilhavam com surda refulgência, como se absorvessem a escassa luz da manhã. Havia um segredo naquela paisagem. Durante minutos, ficou a olhá-la e sentiu que a sua grave serenidade o envolvia, trazendo-lhe um bem-estar como não sentia há muito. ‘E eu não o posso exprimir’, lamentou. ‘Não o posso dizer.’ Se agitasse a campainha, viria a esposa ou uma das filhas, mas seu gesto em direção à janela não seria entendido.” (LINS, 1994, p. 11)***

- Reencontro, onde dois amigos relembram as aventuras de infância, porém cada um as interpreta a seu modo.

“ – Éramos bons amigos. – condescendeu. – Grandes amigos.

Sua voz cantante, um pouco áspera e mesmo assim agradável, tornou-se pausada; o riso é menos vibrante; e os olhos, embora conservando o brilho antigo, já não possuem a mesma vida: de alegres que eram, têm agora um quê de melancólica serenidade.” (LINS, 1994, p. 19-20)


- Tempo, que mostra a dificuldade de comunicação entre duas gerações.

Uma alteração no caminhar do homem, que entrou no gabinete, as mãos para trás, turbou suas cismas. O filho não levantou a cabeça e a mãe percebeu que ele reprimia um movimento de enfado. ‘Um dia, quando menos esperarmos, ele fugirá de nós. Cada vez nos tolera menos, só o pai não vê isso’.” (LINS, 1994. p. 38)

- O perseguido ou Conto enigmático, onde um jovem se vê perseguido durante uma viagem de trem. O conto é envolto por uma atmosfera de mistério e o real motivo para todo desespero do personagem só nos é revelado no final.


“Esses rumores não estão sozinhos. Há um ruído estranho, que não é das rodas nem do vento. É algo diferente, imprevisto: alguém me persegue; há alguém correndo ao lado do trem.” (LINS, 1994, p. 46)

- O vitral, que acredito ser o conto mais curto de todo o livro, porém não menos belo que os outros, pelo contrário, o achei um dos mais otimistas.

“Desde muito ela sabia que o aniversário, este ano, seria num domingo. Mas só quando faltavam quatro ou seis semanas começara a ver na coincidência uma promessa de alegrias incomuns e convidara o esposo a tirarem um retrato.” (LINS, 1994, p. 82)
 
* NITRINI, Sandra. Um singular contador de estórias. In.: LINS, Osman. Melhores contos de Osman Lins. São Paulo: Global, 2003. p. 9-26.
**LADEIRA, Julieta de Godoy. Contos do artista quando jovem. In.: LINS, Osman. Os gestos. 3. ed. São Paulo: Moderna, 1994. p. 4-6.
*** LINS, Osman. Os gestos. 3. ed. São Paulo: Moderna, 1994. 96p.

2 comentários:

Gostou? Não Gostou? Tem uma opinião diferente?
Deixe seu comentário! Aqui é seu espaço.

PS: Se for comentar como anônimo, por favor, coloque seu nome no final do comentário. :)