Um clássico do gênero distopia (ou utopia
negativa), 1984 nos apresenta um
futuro bastante perturbador. Originalmente publicado em 1949, quando o ano do
título parecia um futuro distante, o livro já foi interpretado como crítica aos
regimes totalitários do período Pós-Guerra (como o Fascismo e o Stalinismo) e
até como um tipo de previsão desesperada do futuro da humanidade.
Há algum tempo eu estou interessada na leitura
desse livro, que é uma leitura obrigatória pra quem quer saber de onde surgiu a
fórmula usada na maioria dos romances distópicos contemporâneos bem como
entender um pouco melhor esse gênero. Então quando vi que havia um exemplar
dele na biblioteca que trabalho, eu não tive dúvidas em escolhê-lo como próxima
leitura. Infelizmente ela demorou um pouco mais que o previsto e talvez isso
tenha contribuído para minha dificuldade em avaliar o livro.
Em 1984
o mundo como o conhecemos nunca chegou a existir e após várias grandes guerras,
se dividiu em três superpotências: Oceânia, Eurásia e Lestásia. Cada uma
dominada por seu próprio governo totalitário. Aqui Orwell nos apresenta Oceânia
do ponto de vista de Winston, nosso personagem principal. Este, aliás, está
longe de se parecer com o herói das distopias atuais. Ele está perto do 40
anos, é muito magro e tem uma úlcera varicosa na perna. Winston mora em Londres
(que já não é mais a capital da Inglaterra, apenas mais uma das cidades de
Oceânia) e apesar de ser membro do Partido, tem total consciência de sua falta
de liberdade e de que há algo bastante errado no modo como o país é governado.
Nessa nova sociedade as pessoas são
constantemente vigiadas pelas Teletelas (televisões que além de transmitir
imagens e som, também os gravam) e pela Polícia das Ideias. As crianças são,
desde muito cedo, ensinadas a vigiar os pais, bem como todas as pessoas
próximas que possam agir ou pensar contra o governo. O mundo vive num eterno
clima de guerra e o Partido, através da figura do Grande Irmão – cujo rosto
estampa cartazes por todo o território de Oceânia – controla tudo, desde a
opinião pública até o registro da própria história, que é constantemente
modificada a fim de favorecer aqueles que estão no poder.
Apesar de saber de tudo isso, Winston jamais
teve coragem de agir contra as determinações do partido até que certo dia, meio
que por impulso, compra um caderno e começa a escrever nele seus pensamentos e
tudo que lhe desagrada, inclusive críticas ao Partido. Essa atitude se não é um
ato declaradamente criminoso, afinal não há leis escritas que empeçam as
pessoas de escrever, já é motivo mais do que suficiente para ser preso pela
Polícia das Ideias.
“Quando você ama alguém, ama essa pessoa
e mesmo não tendo mais nada a oferecer, continua oferecendo seu amor. (...) O
que o Partido fizera de terrível fora convencer as pessoas de que meros
impulsos, meros sentimentos, não servem para nada. (...) A partir do momento em
que você caísse nas garras do Partido, o que você sentia ou duvidava de sentir,
o que fazia ou deixava de fazer, não fazia nenhuma diferença. Dessa ou daquela
forma você sumia e nunca mais ninguém ouvia falar de você nem de seus atos.”
(ORWELL, 2006, p. 197)
O clima durante toda a leitura é tenso e
sufocante. Comecei a me perguntar se conseguiria viver num mundo assim onde até
pensar pode ser um crime político.
Também é fácil perceber a crítica aos regimes
totalitários, bem como o alerta para as possíveis consequências das atitudes
que têm sido tomadas tanto pelos governos como pela própria sociedade quanto as
suas relações entre si. Afinal, mesmo depois da queda dos governos totalitários
satirizados em 1984, ainda é possível
ver muitos dos elementos de dominação do pensamento descritos no livro. Ainda
temos muitas guerras em andamento mesmo que não em larga escala, continuamos a
estragar os recursos naturais do planeta, e grande parte da população (não só
no Brasil) ainda acredita facilmente nas notícias veiculadas pela mídia e pelo
governo (e não duvidem de que a primeira sabe, e muito bem, apoiar o segundo
quando lhe convém).
Inicialmente eu tive certa dificuldade em me
apegar ao enredo do livro, pois a impressão que tive foi que estava esperando
por algo que nunca vinha. Mas gostei do clima tenso, das críticas e de todo o questionamento
levantado durante a história. A cada capítulo eu criava várias expectativas até
que na metade acontecem algumas mudanças que me deixaram mais animada e meu
ritmo de leitura aumentou. No entanto, o final me desapontou um pouco e acabei
interpretando (erroneamente) o livro como um relato desesperado de um futuro
sem muitas perspectivas para a humanidade.
Depois disso eu quase devolvi o livro sem ler os
posfácios, o que teria sido um grande erro, porque são eles que ajudam alguns
leitores mais distraídos (como eu, rsrs) a entender melhor vários elementos
presentes na história bem como sua relação com fatos reais da nossa história
mundial. E só então eu percebi que apesar do seu “final”, Orwell não deixou de
acrescentar um pouco de esperança a 1984.
Enfim, pareceu confuso pra você? Pois
é, pra mim também foi um pouco difícil entender as sensações que tive no final
da leitura. 1984 tem uma narrativa que começa divagar e aos poucos vai te
envolvendo, para no final parecer que te jogou um balde de água fria, porém se
você voltar e analisa-lo com um pouco mais de calma vai perceber que o que
Orwell quis dizer foi exatamente o oposto, algo como: “Abra os olhos! Veja para
aonde está indo. É isso mesmo que você quer?!”
“No nosso mundo as únicas emoções serão o
medo, a ira, o triunfo e a autocomiseração. Tudo o mais será destruído – tudo. Cortamos
o vínculo entre pai e filho, entre homem, e entre homem e homem e mulher.
Ninguém mais se atreve a confiar na mulher ou no filho ou no amigo. Mas no
futuro já não haverá esposas e amigos, e as crianças serão separadas das mães
no momento do nascimento, assim como se tiram os ovos das galinhas. (...) O
único amor será o amor ao Grande Irmão. O único riso será o de triunfo sobre o
inimigo derrotado.” (ORWELL, 2009, p. 312)
Só depois de ler o livro foi que descobri que ele teve uma adaptação para filme, lançado exatamente no ano de 1984 e dirigido por Michael Radford. Vou tentar assistir o filme e depois comento sobre ele por aqui.
E vocês? Já tinham lido o livro ou assistiram o filme?
Boas
leituras e até a próxima!
^-^
Nossa que tenso! Acho que depois de ler esse livro vou ficar com uma DPL braba, hahahaha.
ResponderExcluirPenso que daqui algum tempo você deva fazer uma releitura Ana, vai clarear um bocado de ideias. Gostei muito da resenha!
E só verei o filme depois de ler o livro, nova regra que institui :P
Adorei o layout novo do blog, muito clássico e chique! #Phyna
Ainda vou precisar me acostumar com o nome novo... Livros e Rabiscos já estava muito familiar para mim.
Beeeeijos ;*
Oi Ialy!
ExcluirO clima do livro é muito tenso mesmo, algumas vezes eu até me pegava prendendo a respiração, rsrs.
Ah, com certeza vou reler esse livro, até porque agora que já sei o final vou poder assimilar melhor vários outros detalhes que deixei passar, né?
Que bom que gostou do layout, obrigada!
Eu também estranhei o novo título (mesmo tendo sido eu que o escolhi), pois já estava acostumada com o antigo. Mas depois de digitá-lo umas trocentas vezes pra divulgar a mudança entre os leitores acabei me acostumando e até estou gostando mais da sonoridade dele.
Beijos!
^-^
Nossa Aninha, adorei a resenha. Gostei muito da sua opinião e é um dos livros que tenho muita vontade de ler. Deu ainda mais vontade, haha. Beijo.
ResponderExcluirEu morro de vontade de ler esse livro, mas sei lá, penso que a minha cabeça não vai aguenta. kkkkkkk A resenha refletir o que a gente ta sentindo é normal, ficou um pouco confusa sim, mas você também ficou então.. comigo também não vai ser muito diferente.
ResponderExcluirBjs, @dnisin
www.seja-cult.com
Já ouvi falar do filme feito do livro, e tudo que comentam é sobre seu final aterrorizante, envolvendo aquela fábrica de alimentos. É isso mesmo? Rsrs...
ResponderExcluirBizarro!
Beijos,
Vinícius - Livros & Rabiscos
Oi Vinicius,
ExcluirAinda não assisti o filme, mas agora fiquei com medo. Como assim um "final aterrorizante, envolvendo aquela fábrica de alimentos"? Vc quer dizer igual aquele clipe do Pink Floyd,"brick in the wall"? Vixi! #medo
Beijos e obrigada pela visita.