Fonte: Acervo pessoal. |
Hoje eu trago pra vocês a resenha do livro Perdida, romance nacional, da autora Carina Rissi... Ou você pode chamar esse post de: 8 motivos para não gostar desse livro!
Fazia muito tempo que eu queria ler Perdida. Na época em que acompanhava mais blogs literários, me lembro de ter lido muitos comentários bons sobre esse livro e sua autora. Segue a sinopse da contracapa pra vocês terem uma ideia de como a premissa do livro é bem interessante:
“Sofia vive em uma metrópole e está acostumada com a modernidade e as facilidades que ela traz. Ela é independente e tem pavor à mera menção da palavra casamento. Os únicos romances em sua vida são aqueles que os livros proporcionam. Após comprar um celular novo, algo misterioso acontece e Sofia descobre que está perdida no século dezenove, sem ter ideia de como voltar para casa ou se isso sequer é possível. Enquanto tenta desesperadamente encontrar um meio de retornar ao tempo presente, ela é acolhida pela família Clarke. Com a ajuda do prestativo e lindo Ian Clarke, Sofia embarca numa busca frenética e acaba encontrando pistas que talvez possam ajudá-la a resolver esse mistério e voltar para sua tão amada vida moderna. O que ela não sabia era que seu coração tinha outros planos...” (RISSI, 2014, contracapa).
Eu comprei o livro, mas acabei deixando-o de lado, até que minha amiga Pryscylla, que também adora romances, me pediu emprestado, assim como a continuação: Encontrada. Quando me devolveu os livros ela era só elogios: “a história é divertida”, “muito bom”, “a personagem é doida e engraçada”, “tu vai amar”. Fiquei com as expectativas lá no alto, aí fui ler o primeiro livro e... Me decepcionei! Não sei se por causa de tantas expectativas ou se meu gosto por romances mudou à medida que fiquei mais velha, mas Perdida me pareceu bem fraco. Vamos aos motivos:
1) Personagem principal fraca e chata!
Sofia promete bastante no início da história, até parece ser uma garota descolada e bem resolvida, mas é só aparecer uma dificuldade que ela se transforma numa pirralha chorona e mimada. E quando se apaixona, então? Fica insuportável! Só sabe lamentar a sua má sorte, reclamar e chorar pelos cantos.
2) A relação “forte” que Sofia diz ter com a amiga Nina é só da boca pra fora.
Em nenhum momento, nem no começo, quando somos apresentados à sua vida e cotidiano, nem quando ela vai parar no passado e fica repetindo que não sabe como viver sem a Nina, [ALERTA DE SPOILER, se quiser ler selecione o texto a seguir] mas não pensa duas vezes antes de escolher o boy bonitão do passado e simplesmente abandonar sua vida e sua “melhor amiga”, por que “ah, a Nina tem o Rafa e eu não tenho ninguém”. Aff! ¬¬’. [FIM DO SPOILER]. Nada parece real, tudo é muito forçado. A impressão que tive foi que a autora só teve uma ideia geral do enredo e saiu preenchendo os espaços em branco com qualquer coisa improvisada.
3) A autora mutila (MUTILA!) a história do Brasil!
Sofia chegou ao ano 1830, mas não encontra 1 escravo, e nem mesmo negros. Só tem gente branca, até parece a Europa! No final do livro a autora “justifica” isso como licença poética, ela usa as seguintes palavras: “(...) porque, além de hediondo, é muito vergonhoso para nossa história. E, como no mundo do faz de conta tudo é possível – inclusive viajar no tempo através de um celular – eu, simplesmente decidi que a escravidão nunca aconteceu.” (RISSI, 2014, p. 363, grifo nosso). Pois é, exatamente o que você leu. Eu passei o livro todo me perguntando por que raios não tinha nenhum negro em 1830, aí a criatura me vem com uma desculpaesfarrapada, digo, resposta dessas?!
Pensei cá comigo mesma: tanta coisa que a autora poderia fazer, se não tava a fim de falar da escravidão, sei lá: a história poderia se passar em outro país, por exemplo... ou quem sabe a Sofia não viajasse no tempo realmente, mas para uma realidade paralela... ou para dentro de um livro que ela gostasse, ... Poxa, tem tanta coisa que já foi usada na ficção! No começo achei que a Carina ficou com preguiça de pesquisar sobre a história do período, mas não foi o caso, já que ela pesquisou sobre alguns costumes da época como o banheiro fora de casa (a casinha), a alface usada como papel higiênico antes deste ser inventado, a comida da época, etc. Até sobre a teoria do buraco de minhoca ela parece ter lido um pouco. Enfim, pra mim nada justifica essa mutilação da história, porque ela não apagou só uma parte hedionda e vergonhosa da nossa história, apagou também toda a história de luta do povo negro por liberdade e igualdade.
4) A autora parece querer replicar o mundo dos livros de Jane Austen, mas esqueceu que seu romance se passa no Brasil. Nem o nome da cidade onde Sofia vive é citado. Toda a ambientação da história (tanto o presente como o passado) ficou muito superficial.
5) Ian Clarke é um “príncipe encantado”.
O par romântico da Sofia parece ser “o cara perfeito” da nossa sociedade machista, ele é bonito, rico e se apaixona pela mocinha à primeira vista. Ian quer dar tudo à Sofia numa bandeja de prata, mesmo aquilo que ela não quer, como dinheiro e vestidos de luxo. Isso não parece nostálgico? Sim, todos os mocinhos abusivos da literatura dita “de mulherzinha” mandam lembranças. Não, me desculpem, mas não consegui simpatizar com o Ian.
6) O romance não se desenvolve!
O “grande amor” dos protagonistas é simplesmente jogado na nossa cara e forçado goela abaixo. É como se um raio caísse na cabeça deles e pronto, estão perdidamente apaixonados. Mal se conheceram e “um já não pode viver sem o outro”. Parece até filme de princesa da Disney. Lembra da princesa Anna no início de Frozen? É disso que estou falando. E quando você finalmente se acostuma com isso, a autora começa um estica-e-puxa de dar nos nervos!
7) Uso e abuso de clichês sem a mínima criatividade!
Eu não sou contra os clichês, até gosto deles, mas acho que o autor precisa de um mínimo de criatividade para deixar o “recheio” da história mais interessante. Eu acredito que o mais importante numa narrativa não é bem O QUE acontece, mas sim COMO acontece. Isto é, se uma história é bem contada, você pode usar todas as fórmulas prontas que, ainda assim, a SUA história terá individualidade.
Um caso que posso usar como exemplo é a série Os Bridgertons, da Júlia Quinn, pois se você prestar atenção aos enredos centrais de cada livro vai perceber que não são novos – temos A cinderela, Orgulho e Preconceito, A megera domada, entre vários outros enredos representados nessa série. No entanto, os personagens de Julia Quinn ainda são bastante humanos, têm qualidades e defeitos, eles aprendem e sofrem algumas mudanças ao longo das suas histórias. Além disso, o modo como essas histórias são narradas as tornam bem críveis para o leitor, mesmo que muitas atitudes dos personagens destoem um pouco do período histórico da ambientação.
8) A “mensagem final” ou “a moral da história”.
[Atenção! Se você ainda não leu o livro e não gosta de spoilers não leia esse trecho].
[ALERTA DE SPOILER, se quiser ler selecione o texto a seguir]Como assim a Sofia passa por tanta dificuldade, chora e sofre como uma adolescente pra, no final, descobrir que o que faltava na vida dela era um homem?! Oi?! Tanta coisa que ela poderia aprender sobre o mundo, a vida, o universo, sobre si mesma ou qualquer clichê do tipo autoajuda... E no fim ela fez essa viagem toda só pra encontrar o príncipe encantado. E nada, NADA, da vida dela no presente valia à pena se não estivesse namorando seu boy magia?! WTF?! [FIM DO SPOILER]
Isso matou de vez o livro pra mim.
Eu fiz essa resenha já há algum tempo (mesmo antes de pensar em ressuscitar o blog) só pra tentar me livrar de tudo que fiquei remoendo depois de terminar a leitura, e talvez depois conseguir ler Encontrada que também já estava encalhado na prateleira de não lidos há tempos. Ainda fiquei na dúvida se deveria postar ou não essas críticas no meu blog, mas depois de reler a resenha algumas vezes percebi que em nenhum momento eu critico a autora (como pessoa), apenas sua obra. O que talvez seja mais perigoso, visto que os fãs podem ficar bem irritados, hehehe.
Concluindo, eu não recomendo esse livro pra qualquer pessoa, não. No máximo pra quem gosta muito de romances e não se importa com os vários problemas que comentei acima. E, se quiser ler pra tirar suas próprias conclusões, que leia com senso crítico, afinal, usá-lo não faz mal a ninguém.
Boas leituras e até a próxima!
RISSI, Carina. Perdida: um amor que ultrapassa as barreiras do tempo. 6. ed. Rio de Janeiro; São Paulo: Verus, 2014. 364 p.
Oie Ana!
ResponderExcluirEu li Perdida em novembro de 2013, o ano de lançamento, então acho que estou um pouco enferrujada :P para falar sobre o livro, mas vamos lá.
Concordo contigo em três pontos, dois deles foram críticas que eu mesma fiz com o término da leitura. Sofia não me cativou, não teve jeito. Até ri com algumas de suas maluquices, mas não foi uma personagem pela qual morri de amores.
E segundo a ambientação da história. Na verdade mesmo, eu nunca me senti no Brasil, sempre pensei estar lendo um romance Inglês/Norte-Americano. E essa é uma das grandes críticas que a autora recebe pelo romance, até dos próprios fãs. Esse foi até um dos temas de debate de um desses encontros de romance de época que aconteceu na Livraria Leitura do Tacaruna.
O terceiro ponto é que a Carina nunca escondeu que é fã descarada da Jane Austen e cá pra nós, o Ian Clarke é uma cópia fofa do Mr. Darcy (Que completou 200 anos em 2013! Coincidência?).
Agora vamos as divergências. (Sempre tem de aparecer o MAS, não é? hahahaha)
Sim, Ian Clarke é mesmo um príncipe encantado e confesso que não vi problemas nisso. Como diz a própria Sofia num dos quotes que eu separei:
"Gentil, inteligente, lindo, charmoso, delicado, divertido, pegada forte e parecia ser rico não que isso me importasse. Quem não cairia de amores por Ian?"
Olha aí Ana, encontramos quem não caiu! kkkkkkkk
Respeito sua opinião, sempre, mas no meu mundo ter excesso de qualidades não é defeito. E o fato dele querer dar tudo a Sofia, acho que rola um lance de época não é? Ele não estava preparado em 1830 para a independência feminina do século XXI. Não acho que deva ser culpado por isso. Tanto que eles foram acertando as divergências ao longo da trama.
E finalmente, sobre o final do livro. Essa é uma questão delicada.
Primeiro, como trata-se de um romance do tipo bem romântico e "final feliz", pressupõe-se que esse seja o mote final, o casal passará por muitos questionamentos até se acertarem.
Outra coisa, cada mulher deve ser livre para fazer escolhas certo? Ela não escolheu apenas Ian, ela decidiu que valia a pena uma mudança radical de vida por amor a alguém que iria formar sua família, seu porto seguro no mundo. Do mesmo jeito que outras mulheres optariam por dedicação exclusiva a uma carreira profissional, ou outras que abandonam tudo por uma causa humanitária e a isso dedicam a vida. Não quer dizer que concorde com um ou outro posicionamento, para mim, o que importa é a possibilidade de escolhas. Afinal, definir quais as prioridades de uma vida é uma resposta totalmente pessoal.
E caso decida vender os livros, por um preço camarada, estou na fila! :D
Li Perdida emprestado e ainda não li Encontrada. Já tem o livro narrado por Ian e ainda vai vir mais uns dois na série, um é o da irmã dele. Acho que já é o próximo.
Também quero conferir os romances contemporâneos de Carina.
Nossaaaa fiz textão! hahahaha
Beijão Ana :*
P.S: Gosto dos romances de princesas da Disney! E nem todos são assim, raios fulminantes de amores, Fera que o diga...
P.S [2]: Estou doida para ler as suas resenhas dos livros da Julia Quinn!
Oi, Ialy!
ExcluirPrimeiro, obrigada por sempre comentar aqui no blog!
Acho que a gente já tinha conversado sobre esse livro, lembro que quando fui revisar essa resenha pra postar aqui no blog pensei logo em você que ama esses mocinhos, mas infelizmente eles não fazem meu tipo. Quando li esse trecho sobre o Ian no livro, juro que ri horrores exatamente porque acredito que eu seja a única que não conseguiu engolir o Ian Clarke por ele ser um “príncipe encantado”. Eu até concordo com você que o fato do Ian querer dar tudo à Sofia condiz com os costumes da época, mas o meu maior problema é ele não respeitar a vontade dela. Aliás, esse, ao meu ver, é o maior defeito dos mocinhos dos romances (tanto os época como os atuais). Eles querem dar tudo às suas amadas, mas parecem não entender o significado de um educado “não, obrigada!”.
Sobre o final do livro, talvez eu não tenha me expressado direito, mas o que me irritou não foi a escolha da Sofia de ficar com Ian, afinal essa foi uma escolha dela. O que mais me irritou foi a função da ida dela para o passado. E foi essa “moral” da história de que mocinhas SÓ podem ser felizes quando encontram o amor da sua vida que mais me irritou. Não que esse seja um defeito único do livro da Carina, pois é algo que se propaga em todos os produtos de entretenimento feitos para o público feminino. Não é só o final feliz romântico, mas a mensagem por trás dele.
Concluindo, a gente tem que marcar um dia pra ter mais discussões literárias, porque esse negócio de conversar por textão pelo blog é complicado, hahahaha.
Ah! Não vendo os livros, não, pra você eu dou de presente mesmo. Preciso de espaço na estante. hehe. Quando a gente for se encontrar, me avisa que eu levo! ;)
Sobre os livros da Julia Quinn, acho que vou fazer uma resenha única porque já tem um tempo que eu li.
Beijos e continua me acompanhando que em breve eu vou fazer resenha de Encontrada (sim, eu consegui ler)!
Nem tem o que agradecer, conversar sobre literatura é um prazer e com gente querida o prazer duplica :D
ExcluirA gente falou um pouquinho sobre ele no Aniversário de Renata e ontem continuamos, hahahaha. E não, você a única! Existem outras que não são do #TeamClarke :P
E eu já tinha ganhado livros aqui e nem estava sabendo! *-*
Obrigadaaaa Ana, eles já estão bem lindinhos aqui na prateleira.
Ameeei meu presente surpresa.
Pode deixar, continuarei por aqui sim! :*